segunda-feira, março 25, 2013

Quinze dias sem ela - Dia Primeiro.

Preso aqui no aeroporto, à espera da conexão, me vejo sem outra opção a não ser esta, escrever o que me vier a mente. Escrever para que se passem quatro horas "rápidas", maldita hora em que não conferi os horários de voo. Frustração é a palavra de ordem.

Mais frustrante que isso é a certeza de não poder tê-la trazido, e a certeza de que ela estará lá sentada e olhando para o quadro branco tentando absorver qualquer coisa que o professor tentar empurrar. Uma tentativa válida para um objetivo que pode parecer distante, mas não o é. Talvez ela esteja roendo uma unha enquanto fica conferindo o celular na esperança de ter notícias minhas, talvez ela esteja na segunda unha, ou na segunda mão.

À minha frente um casal de jovens, um rapaz branco de pulseira preta no pulso esquerdo com detalhes em prata, bem apresentado, e uma garota de cabelos curtos de fogo, à altura do ombro, branca como as nuvens do céu e de camiseta verde e shorts que por pouco não lhe fazem aparecer o começo da bunda, namoram enquanto lancham. Talvez estejam esperando por uma conexão assim como eu. Linda. Mas não interessante.

Será que a minha morena de olhos de jabuticaba está pensando em mim nesse exato momento em que estou aqui a pensar nela enquanto olho esse feliz casal saindo? Mal sabe ela do que sinto agora e da voz ao fundo que me grita para pegar o primeiro voo de volta à cidade natal.

Mas não devo, devo ficar e voar por duas horas rumo a outra cidade, e dessa cidade pegar um carro e passar pouco mais de três horas para só então chegar ao destino final. Até lá eu respiro fundo e mastigo chicletes e ouço música e batuco na mesa do aeroporto para tentar controlar essa ansiedade filha da puta. E para quando nada disso funcionar, o banheiro fica logo ali.

E nessa tentativa de escrita ela não poderia deixar de aparecer, a minha quase íntima amiga, a falta de inspiração. Aquele vazio que me faz, enquanto escrevo, ou pelo menos tento, uma mísera página, dividir a atenção entre as minhas unhas roídas e o grupo de pardais que se aproximam das mesas do centro de alimentação em busca de migalhas. Eles andam a pular e a derrapar no liso piso e a bicar qualquer mínimo pedaço que lhes pareçam com comida.

Até os pardais andam em casais e eu aqui, no meio dessa multidão, só. Ah, que falta ela me faz. Falta, saudades, carência, chame como quiser. O sentimento é o de querer estar ao lado dela, seja deitados e namorando na nossa cama, seja dirigindo enquanto ela me olha com aqueles grandes olhos, seja vendo filme e roubando alguns beijos enquanto roda a parte chata.

Acho que no final das contas essa escrita acabou ficando para ela, uma pena mais uma vez não poder estar lá. Espero que esteja prestando atenção bem à aula de hoje, e que preste também nas que se seguirão durante essas duas semanas.

Será que já leu a primeira carta? Ou vai esperar pela noite? São apenas quinze, e quando menos perceber, lá estarei.

Fim do texto, mas ainda me restam quase as mesmas intermináveis quatro horas de espera...

O capitalismo se transformou numa merda mesmo.


Ps: Não me pergunte o por que dessa frase final, talvez seja apenas mais um produto da minha frustração.


Lucas Sales Viana