sexta-feira, agosto 09, 2013

Que você construa uma escada para as estrelas e suba cada degrau, meu amor.

- Ei, já cheguei.
- Tá, espera um pouco, pode ser?
- Sim. – Desliguei o celular. Com o carro parado na esquina escura, eu pensava em como seria nossa noite, qual caminho eu pegaria para chegar até o Estoril, se já estaria muito cheio quando chegássemos, ou se a música seria tão boa quanto nós estávamos esperando. Saí do carro, mas sem saber direito o porquê de estar fazendo aquilo, apenas saí. Subi a rua, estranhamente eu sentia essa necessidade de andar, cheguei ao final da rua, olhei para um lado, para o outro, dei meia volta e desci-a.
Olhava de forma despretensiosa para as grades e portões das casas e até pros jardins tristes de algumas outras, eu ainda tentava descobrir o que me dera para estar ali andando... Ao fundo pude vê-la indo em direção ao carro, ela chegou, tentou abrir a porta do passageiro, sem sucesso. Eu ri enquanto se abaixava para tentar ver por entre o vidro escuro, continuei descendo a rua no mesmo ritmo. Chegando mais perto, notei algo diferente, apesar de vestida para sair, não estava com os cabelos tão bem penteados como de costume, tive um mal pressentimento. Então ela me viu, não sorriu, apenas me esperou. Destravei o carro, dei um beijo de olá, ela retribuiu e entramos no carro.
- Não quero mais sair. – Soltou com uma feição séria
- Como é?
Ela suspirou, levantou o olhar – Não quero mais, você ainda quer?
- Aconteceu alguma coisa?
- Não, apenas não estou mais a fim de sair. – E fechou a cara.
- Ok. Vamos pra casa então?
Virei a chave, liguei o som e parti. Mal começamos a rodar e ela me falou sobre uma promoção que estava acontecendo no shopping Benfica, perguntei se ela queria passar por lá e ela topou. Fomos. E aquilo me parecia mais um inferno. Essa cidade se parece cada vez mais com um inferno. O shopping estava lotado de tal forma que mal podíamos andar lado a lado eu e ela. Aquilo me irritara mais ainda. E a ela também. No final ela acabou não comprando. Voltamos para casa.
Eu insistia em descobrir o que tanto lhe estava incomodando, mas ela mais parecia uma rocha àquela garota de sempre. Em silêncio chegamos em casa, estacionei o carro, virei a chave e ela logo tratou de sair. No quarto ela jogou suas coisas ao chão e pra cama foi, fui junto. Ainda perguntei mais um par de vezes e ela continuou dizendo que nada acontecera e que apenas não queria sair. Decidi desistir por aquele momento. Apenas fiz carinho enquanto olhávamos para o ventilador que ficava no teto.
As horas se passaram, ela lá em silêncio, eu no seu pescoço em silêncio. Ora eu me levantava para lhe mostrar algo no notebook, ora ela me chamava para ficar ao seu lado na cama. Contei-lhe que ficaríamos sozinhos naquela noite, que a casa seria somente nossa por alguns dias. Ela deu um sorriso leve e teve uma ideia.
- Vamos para a varanda?
- Sim. – Respondi.
Juntamos um lençol grande, alguns travesseiros gordos e fomos. Abri o lençol por sobre a área descoberta, ela jogou os travesseiros, voltei para pegar o notebook, meu celular e o telefone de uma pizzaria que fica nas proximidades. Coloquei o notebook sobre uma das cadeiras da área, liguei-o e sai. Ela ficou mexendo na máquina, procurando por músicas, enquanto eu entrei para pedir a pizza.
- Pode ser portuguesa? – Gritei de dentro da casa.
- Pode. – Ela gritou de volta.
Fechei o pedido, voltei para o ninho com um par de pratos e talheres. Ela já estava deitada com poucas roupas e olhava para o céu, uma música qualquer tocava, cheguei perto do computador...
- Não mexe aí, vem pra cá. -  Ela soltou.
- Como quiser. – Fui e me deitei ao seu lado e olhei para o céu.
Era uma noite de algumas nuvens e poucas estrelas, essa cidade e suas luzes cada vez mais matam a beleza do céu. Aquela mudança de cenário, de alguma forma conseguiu mudar o humor dela. Ao seu lado deitado e olhando para céu, ela começara a conversar, das bobeiras do dia a dia, aos problemas em casa...
A campainha tocou.
- A pizza chegou! – Corri para pegar e voltei tão rápido quanto para o ninho e lá estava ela sentada à mesa e sem blusa e com um sorriso grande pra mim. Coloquei a pizza sobre a mesa de centro, joguei carteira e as chaves ao chão, tirei a camisa e me aproximei dela. Ela pegou a blusa que repousava sobre o seu colo e a vestiu, deu outro sorriso para mim. – Vamos comer, amor, antes que esfrie... – Ela sabe como me provocar, pensei.
Comemos cada um dois pedaços, ela com sua mostarda e eu com meu ketchup, ela rindo maliciosamente para mim enquanto sua mão escorria por entre minhas pernas e eu sendo afastado a cada tentativa de roubar um beijo mais quente. Terminamos, ela decidiu se levantar e levar a pizza até a cozinha. – Não, amor, é bom guardar, aguenta aí, você vai ficar bem... – Eu me deitei no ninho, puxei um travesseiro para apoiar a cabeça e esperei por uma estrela cadente. A escuridão se fez, com seus cabelos negros ela me tapou a visão, só podia ouvir sua risada e sua respiração. Em seguida ela completou com suas mãos. Eu estava imóvel, e assim queria ficar, eu me perdia naqueles fios e em como eles eram cheirosos. Meu Deus, eu estou fodido, sussurrei.
A luz se fez e com ela uma estrela cadente em forma seminua me apareceu. Essa mulher ainda me mata, aquela silhueta magra e tão curvilínea, com seios firmes, como se a gravidade ainda não tivesse sido ligada, cintura fina e quadris largos, coxas grossas e pele lisa e macia, que se completava com um sorriso misto de ingenuidade e provocação. Ela é a minha deusa.
E o meu demônio. Não deixou eu me levantar, apenas deu meia volta e deitou-se ao meu lado, sorriu para mim e voltou os olhos para o céu, esquecera de mim. Tentei avançar e...
- OLHA! Uma estrela cadente, espera, vou fazer um pedido. – Como eu disse, ela sabe me provocar. Fixou o olhar no traçado, que só ela vira, da estrela e fez o pedido.
- Porra! Já perdi uma estrela, me deitei por um bom tempo aqui e nada, você vem e num segundo essa merda aparece... – Resmunguei. Ela sorriu, riu e me beijou. Afastou-se, deu-me um olhar sério, chegou próximo da minha orelha esquerda e soltou:
- Eu pedi pra gente fazer amor. – E voltou para mim com aqueles olhos de jabuticaba cheios de desejo.
O que eu poderia fazer depois disso?


Lucas Sales Viana