sexta-feira, setembro 16, 2016

Dezessete de Setembro de 2011.

Olá para quem ainda acompanha isso. Talvez essa seja a única postagem minha, que eu lembre, sóbrio. Aquele que aqui costuma escrever surge mais facilmente após doses e mais doses de álcool. A verdade é cuspida mais facilmente quando se está ébrio.
Nesses últimos meses, a cada nova postagem questionei-me a razão de continuar aqui, hoje cheguei a dupla conclusão de que não se é mais necessário manter isto. Dupla conclusão? Sim. Tanto o bêbado que escreve, como o sóbrio que lê no dia seguinte, ainda que ressaqueado, perceberam finalmente o óbvio.
Enquanto estava eu a organizar e retirar todos os comprovantes de pagamentos e “lixos” da carteira deparo-me com um pequeno papel dobrado quatro vezes, um pouco sujo e com alguns rasgos. Esse papel me acompanha a tanto tempo que eu não soube no momento precisar, veio-me então aquela curiosidade cruel, a de abrir e reler outra vez o que ela havia escrito. Li da primeira letra até a assinatura final, sem tristeza no coração e com um sorriso cada vez mais raro de aparecer. O sóbrio apertou a mão do bêbado.
Em respeito a você, aos amigos que ainda acompanham, e aos desconhecidos, decidi escrever pela última vez aqui, em definitivo. Noutras épocas fiquei incerto em manter este diário virtual, cheguei a apagá-lo algumas vezes, dessa vez a certeza é uma só, a de que não se pode apagar o passado das nossas vidas, mas se pode pôr um fim. É passado da hora desse blog parar, foram seis anos desde a primeira postagem, cinco desde a primeira postagem sobre você, quatro dedicados exclusivamente a ti. E assim como você deu sentido ao blog, você deu sentido a mim. Mostrou-me, da sua forma, as razões que nos levam a estarmos vivos e o que podemos fazer de melhor nesse período de transição. Você conhece-me melhor que ninguém e tirou-me de um estado perigoso quando nos conhecemos. A isso serei eternamente grato.
Todos os dias desde que eu te conheci, sem hipérbole, eu penso em você. Hoje, quando eu olho para trás, apesar de todas as falhas que cometemos, e todos os defeitos que possuímos, eu tenho a mesma certeza que tive ao te abraçar pela primeira vez deitados num “puff” qualquer em um salão escuro com uma imagem de rio projetada numa das paredes. Você sabe qual.
“Deus perdoa, mas o preto não! ” Hoje eu faço piada escondendo a certeza de que me faltou maturidade e sobrou egoísmo. A maior lição que fica disso tudo é a de que eu preciso aprender a perdoar. E foi esse papelzinho velho, cansado, mas verdadeiro, que me trouxe até aqui. Lê-lo hoje antes de ir trabalhar, em vez de apenas repetir a segunda parte dele, antes de sair de casa, como faço todos os dias desde o dia em que consegui decorar a oração, levou-me a isto. Eu não lembrava que ele estava comigo a tanto tempo, nem tampouco o que havia escrito na primeira parte.
Você sempre será a minha musa, a mulher que eu mais amei e ainda amo. Ver-te sorrindo hoje me faz tão feliz quanto antes. E pelas vezes que te magoei e decepcionei, eu peço perdão. Eu sou meio idiota, você bem sabe disso. Seja sempre maravilhosa!

Do seu,

Ps: Ah! Hoje coincidentemente completam cinco anos que o papel está na minha carteira.
Anexo 1 -Carta aos quase dez meses de namoro, escrita por ela a mim.             Set/12
“Aos nossos quase 10 meses de namoro, já não tenho dúvidas sobre esse amor tão singular que sinto por você, e sei que você apresenta esse mesmo sentimento por mim.
Por isso, nós sempre procuramos proteger um ao outro de alguma forma, ouvindo, aconselhando, sentindo ciúmes, esperando no ponto de ônibus. São coisas simples como essas que nos fortalecem e nos tornam mais unidos.
Não sei você, sempre penso que poderia fazer algo a mais para poder ficar do seu lado por mais tempo, só ali, os dois bem quietinhos. Mas a vida não funciona assim, a gente se afasta, não tem jeito! E são nessas horas que eu me pergunto se você deve estar bem.
Conheço-o bastante, a ponto de saber que você talvez deteste isso. Contudo, você não é um “bruto”, como dizem por aí. E seria muito importante, para mim e para você, que visse, guardasse e lesse com muito carinho cada palavra desse papel.
Eu amo você!
Ps: Por favor, não veja isso como algo apenas de cunho religioso, por mais que eu saiba das suas opiniões sobre isso. Mas você acredita em Deus, já me disse isso. E, por diversas vezes, Ele cuidou da gente. Por isso, peço pra você fazer esse esforcinho de ler, se possível, diariamente a mensagem bíblica que o apresentarei agora.
--x--
SALMO 91
Aquele que habita sobre a proteção do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará.
Direi do Senhor: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nEle confiarei.
Porque Ele te livrará do laço do passarinheiro e da peste perniciosa.
Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas te confiarás; a sua verdade será o teu escudo e broquel.
Não terás medo do terro da noite nem da seta que voa de dia, nem da peste que anda na escuridão, nem da mortandade que assola ao meio dia.
Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará a ti.
Somente com teus olhos contemplarás, e verás a recompensa dos ímpios.
Porque tu, ó Senhor, és o meu refúgio. No altíssimo fizeste a tua habitação.
Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda.
Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos.
Eles te sustentarão nas suas mãos, para que não tropeces com o teu pé em pedra.
Pisarás o leão e a cobra; calcarás aos pés o filho do leão e a serpente.
Porquanto tão encarecidamente me amou, também eu o livrarei; pô-lo-ei em retiro alto, porque conheceu o meu nome.
Ele me invocará, e eu lhe responderei; estarei com ele na angústia; dela o retirarei, e o glorificarei.
Fartá-lo-ei com lonjura de dias, e lhe mostrarei a minha salvação
--x--
Com amor,
(Você)”

quinta-feira, setembro 01, 2016

Quatro de Dezembro de 2015.

Uma pequena lembrança irrisória que jogo a pretexto pra atualizar esse "diário":

Cheguei em casa, plena quarta, ébrio o suficiente a me permitir escrever qualquer coisa fora o livro, não que eu tivesse a intenção de escrever, mas fui dragado por aquela lembrança ao escutar uma música dos Selvagens que já ouvira a tempos. Toco uma vez, pela segunda, e na terceira volto e lembro-me de Rubem Alves. Não me pergunte o porquê.

Rubem me foi apresentado graças ao desinteresse da primeira namorada que tive por sua escrita, doou-me um livro que à época era de leitura obrigatória no colégio. Ela odiara, já eu... Escritor espetacular e de palavras sinceras. Anos depois resolvo, após encontrar essa obra perdida numa das minhas grandes bagunças, comprar outro do mesmo escritor, afinal um só nunca é suficiente.

"Pensamentos que penso quando não estou pensando", o título me chamara a atenção, e graças a minha superficialidade e habilidade em julgar os livros por suas respectivas capas decidi adquiri-lo. Sorte a minha.

Rubem mais uma vez me surpreendera, e apesar da pouca maturidade para absorver tudo o que ele tentava me passar, guardei o que pude na lembrança. Eis que hoje, sabe-se lá por que diabos hoje, entra então a característica mais intrigante que a vida nos oferece, aleatoriedade de eventos.

Aleatoriedade essa o suficiente para disparar esse trecho na minha lembrança, para convencer-me a voltar a esse diário virtual que cada dia mais perde o sentido de existência.

Cada verso da música ecoando na minha cabeça ia contra a cada palavra escrita sabe-se lá em qual página de Rubem. E mesmo antagônicas, só agora me fazem sentido.

Aquele senhor uma vez me disse que o sentimento da saudade era a nossa essência sussurrando-nos aos ouvidos aonde deveríamos ir. Os Selvagens me confessavam o trágico, o "não" mais doloroso, o próprio "não" ao amor impossível, àquele amor que fomos, ou seremos um dia, todos reféns, aquele que nos escapa.

No final todos temos a razão, ou melhor, ninguém a possui. Racionalizar tal sentimento, cada vez mais raro, mas não tão complexo, tentar expressá-lo em palavras, enquadrá-lo num binômio é tão mais desnecessário quanto vivê-lo. Vivam-no. Aceitem-no. Para o amor, não há certo ou errado, há somente de ser verdadeiro.

Lucas Sales Viana

terça-feira, agosto 16, 2016

Falando em você...

...
Decidi escrever,
quanta novidade,
esse poema
branco e livre.
Perfeição pouco importa
A Verdade, essa sim.

Olhos de jabuticaba
Cabelos nanquim
Espírito livre
Sorriso desconcertante
Gênio enigmático
Cheiro... Ahh, o seu cheiro

Pensar em você
tornara-se o meu ritual matinal,
vespertino, noturno.
Tornar-se-ia passatempo,
tornou-se tormento.


Lucas Sales Viana

quinta-feira, junho 23, 2016

Quarto Minguante

Sentado frente a esta máquina
bebendo, ao som de Page e Plant
relembro-me do que sou
aquele que escreve (e bebe).

O trabalho drena-me a vitalidade
os estudos e as distrações também
e o que me resta senão
as migalhas d'alma.

Verdades vãs, desabafos vazios
lágrimas não mais, carrancas a todos
e aos que sobreviverem flores.

A vida é somente uma, igual a todos
mas cruel a aqueles que não se atentam
à sua fugacidade.

Lucas Sales Viana


quarta-feira, maio 11, 2016

[Dis]Soneto da [In]Fidelidade

De tudo ao meu amor tentei ser atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo frente a tantos encantos
Prendi-me aos mais belos momentos.

Quis viver-te em cada vão momento
E em teu louvor hei de espalhar meus riscos
Rimos tantos risos, derramamos alguns prantos
Em nossos pesares ou contentamentos

E assim, quando um dia me procurares
Quem sabe na morte daqueles que viveram
Quem sabe na solidão daqueles que amaram

Eu possa te dizer, amor (que tive):
Que teria sido imortal, mesmo sendo chama
Infinito e duradouro, se sincero.



Lucas Sales Viana

segunda-feira, abril 11, 2016

Os guardanapos do bar sabem do óbvio

Não importa escrever esses riscos
em um guardanapo
numa carta
ou no livro.
Se quando sinto teu cheiro enquanto beijo-te a mão
todas as palavras me fogem
um vazio invade a mente
e a nostalgia, meu coração.
O que devo fazer é algo simples
pegar o longo caminho para casa.


Lucas Viana

quarta-feira, janeiro 27, 2016

Às flores que não florescerão nos nossos jardins.

[...]
Chego então a isto, ao epílogo deste romance, mais breve que o esperado, de um final nada desejado. Pelo menos conseguiu concluir. Diria ela, se cá estivesse, sempre me trazendo um otimismo, que pouca diferença faz agora.
Imagino-me a sua porta vestido com o cabelo bagunçado, sem banho tomado, cheirando ainda a cerveja e uísque, e com meu uniforme, a camisa preta, o par de calças jeans bem surrado e o par de botas. Seguro um envelope fechado sob o braço direito. Respiro fundo e estico o outro para alcançar sua campainha. Meus óculos escuros nuveiam a ressaca e o cansaço, o sorriso raso mitiga a tristeza do que de certo seja o último encontro.
Que você está fazendo aqui? Trouxe isso, queria que você desse uma olhada antes de tudo. O que é isso? Outra caixa de coisas que você encontrou pra me devolver? Não, um rascunho. Não vou ler, te pedi para jogar fora tudo que fosse nosso, assim como você fez com as minhas e as nossas coisas. Eu olharia para o chão, abriria outra vez o sorriso cansado, engancharia o pacote entre as grades do seu portão e diria qualquer coisa me virando para ir embora. A gente terminou... Eu sei, mas eu escrevia para você, os melhores sempre foram sobre você, para você, assim como isto. Mas eu não quero ler, Lucas! Não posso! Tudo bem. Queime então, jogue no lixo, nada mais justo, nem para limpar a bunda isso serve. É meu último presente, minha musa. Meu passaporte para a liberdade, como você diria.
Eu te pedi para não fazer mais isso, pedi para apagar os textos, jogar fora, você me magoou demais, mais do que eu jamais pudesse imaginar, não posso voltar. Não posso! Eu sei. Não tô te pedindo isso, apenas que leia, não temos mais jeito, eu sei bem disso, bem antes de terminarmos. Você ler é a última parte do meu ritual, lembra? Vivemos o momento, em alguma noite seguinte eu bebo, me meto a escrever sobre você e então te entrego, você lia, sorria e cada vez me amava mais. Dessa vez você não vai seguir os dois últimos passos. Veja, se eu não concluísse isso, dessa forma, eu só iria abraçar mais e mais a sombra que me acompanha e que você conhece tão bem.
Não posso ser mais sua luz, Lucas, ou qualquer blá-blá-blá que você dizia. Apenas leia. E por favor, não jogue fora, é a única versão. Fiz na máquina, a única coisa que escapou da minha fúria. Ou joque, é seu, tanto faz. E respondendo a sua pergunta, vou vistoriar algumas obras esse final de semana por aqui, estou numa pousada aqui perto. Tenha um bom dia. Saio da sua vista pela última vez, sorrindo o sorriso dos mortos, e ansiando por um copo de uísque. Quatro, talvez.
Cada passo dado na direção oposta a você é uma lembrança vindo à tona. O primeiro encontro. O primeiro beijo, torto, é verdade, mas sempre será o primeiro. O primeiro “não”. Os reencontros, o desencontro, a volta em definitivo. É certo que vou chorar, que você também irá, e em cada lágrima nossa haverá um reflexo dos risos e sorrisos gastos nesses últimos cinco anos. Cada abraço. Cada beijo. Cada entrega. Eu vou continuar andando. Sem olhar para trás dessa vez. Caminhos separados. Nô mais, Musa. Nô mais.


Lucas Sales Viana