quarta-feira, março 23, 2011

Putas nem sempre são putas

Eu não trato mal, nunca tratei mal, não importa se seja uma puta ou não, toda mulher tem sua dignidade. Ela era boa comigo, ela sempre foi boa comigo, ela costumava ser boa comigo, costumava. Dei meu coração a ela... Nós homens sempre pagamos o maior preço por uma boa mulher, o nosso coração. O meu é dela. E vejam onde eu fui parar. Sentado nu em frente à máquina velha de escrever num quarto caótico de um hotel velho e sujo de beira de estrada com uma jovem garota e seus poucos dezoito anos e pequenos seios duros e uma vagina confortável e quente coberta por um lençol sujo de porra.
Eu poderia salvá-la, poderia... Ela só quer sustentar a família pobre, uma pena, ela poderia ser uma excelente médica, ou o que mais ela quisesse. Quem sabe o mundo ela teria. Talvez ela só queira dormir um pouco e sonhar, sonhar um lindo sonho que a faça acreditar que o mundo é azul com um campo florido e perfumado e um belo sol amarelo e grande. Então ela irá acordar e o soco mais forte e ríspido e cruel lhe acertara em cheio e ela cairá. A realidade de um lençol sujo e uma cama desarrumada e  um homem nu de costas sentado e um ardor entre as pernas e o gosto ruim de porra e algumas notas amassadas ao lado da cama em baixo de uma garrafa vazia de cerveja.
Eu poderia sentir vergonha por ela enquanto ela veste o fino e surrado vestido, ou pena, ou carinho, ou amor. Eu poderia sentir por ela e por mim... Ela já saiu, e eu nem...  Qual era o nome dela?


Lucas Sales Viana

terça-feira, março 22, 2011

Apenas me ouça

Não. Não crie expectativas sobre mim, você irá se decepcionar. Sei, depois de tudo, que tenho, inato a mim, a habilidade de frustrar as expectativas alheias, menos as minhas, nunca as tive.
Como pode ver, eu escrevo, escrevo minhas memórias, é a única coisa que consigo fazer hoje. Não ao trabalho, não à diversão, não a quaisquer outras coisas.
De alguma forma, essa é a minha última missão, andar por essa estrada, parar num hotel ou noutro, pegar minha máquina e escrever o que me vier, escrever sobre o meu passado e a porra toda. Depois, levantar acampamento, andar, parar e escrever e de novo e de novo.
Afora os outros que encontro à beira dessa estrada e que pouco ou nada me são importantes, somos eu e minha máquina e você. Você é o meu único e exclusivo interlocutor, o meu fiel ouvinte e o meu futuro traidor. Você, criado pela minha mente insana, é a cadeira velha que impede que a porta seja derrubada pelos murros e chutes e gritos da minha loucura. Eu vou entrar!


Lucas Sales Viana