quarta-feira, julho 13, 2011

May...

Sentado sozinho na areia do mar mais uma vez naquele mês, eu já estava me acostumando com aquele ritual, eu gostava daquilo, olhei para trás por um momento e a vi, chamei-a gritando de forma irônica, ela veio com um sorriso meio amarelo e sentou-se ao meu lado meio sem jeito. Recebeu minha mensagem passada, menino? Não, que mensagem? Não lembro mais o que eu tinha escrito, foi na semana passada. Não vi nenhuma mensagem sua. É pode ter sido, meu aparelho anda meio louco... Tudo em você é louco, garota! Não acho. Eu acho. E gosta? Das suas loucuras? Sim? Um pouco... Eu sorri e ela olhou para frente com um sorriso escondido.

Depois de um tanto de silêncio com os dois olhando para a linha suave que divide o azul em céu e mar como se ali estivesse algo para suas mentes confusas e imersas em sentimentos mais confusos ainda ela voltou para ele os olhos, e ele, para ela. Uma pena que a gente não saia mais... É verdade, mas lembra quando você me dispensou em dois encontros? Mas isso é passado, eu não farei mais, daqui pra frente será só carinho, ela baixou o olhar ao perceber o que acabara de sair da sua boca carnuda. Eu gosto de garotas carinhosas, disse olhando para o mar. E o que mais você gosta em uma garota? Perguntou ela de olhos fechados e fazendo força, parecia-me que ela queria sumir com eles, ou algo do tipo, foi uma cena engraçada.

Ela voltou a olhar para mim com agora um rosto confuso. Depende... Como assim? Do que depende? Calma, eu disse, garota, eu acredito que depende muito do que cada um quer do outro no relacionamento, sabe, do que cada um sente em relação ao outro. Ela voltou a olhar pro chão de areia sob nós com uma expressão de decepção, ou desapontamento, não pude ver bem. Tudo explicado, deixemos pra lá, então, falou ela tão baixo que mais parecia um sussurro. Não, eu disse, agora eu fiquei curioso, quero dizer, você me vem toda insistente, querendo saber do que eu gosto em uma garota e agora, depois da resposta, sussurra assim, dessa forma... o que aconteceu? Não é bem assim, depois de tudo que aconteceu entre a gente, depois dos meus vacilos, acho que agora tenho medo da sua reação. Eu acredito que se você tivesse vacilado muito comigo, eu sequer teria gritado por você, garota. Relaxe, eu sou um cara bem compreensivo com garotas. E ela calou-se por um tempo, e eu voltei meus olhos para o mar, era uma manhã boa nessa cidade que quase sempre nos dá um clima terrível, não tínhamos nenhuma nuvem ao céu, apenas ele azul e o grande sol.

Eu tenho algo pra te dizer, ela recomeçou sussurrando, mas não sei como dizer, você mudou bastante. Como assim? No que eu mudei? Sei lá, você está diferente, eu vi algumas fotos suas, li alguns dos seus textos, você parece diferente, uma espécie de “pegador”... antes você me disse outras coisas... Do tipo? Parecia muitas vezes com algo vazio, ela continuou, sei lá, uma conversa vazia. Talvez tenha sido pelo fato de agora eu estar mais verdadeiro, sem tantos rodeios e falas bonitas e feitas, e você bem sabe que minha natureza é mais de construir relacionamentos à uma diversão momentânea... Ela olhava agora para o céu, como quem espera por algo que irá cair de lá, talvez a coragem que ela iria precisar. Eu respeitei aquilo, aquilo foi bonito.

Então, o que você queria me dizer, disse eu acabando assim com o silêncio. Ah, ela suspirou, não sei se ainda vale a pena... falar o que eu queria...mas eu queria... É, essa parte é com você, o que eu posso garantir é que vou estar aqui, escutando e conversando com você... e você fazendo isso só aumenta a minha curiosidade. Mas eu posso mudar de assunto, sou ótima nisso, sorriu ela um sorriso desconcertado. Sorri de volta.

Eu adoro muito você, muito mesmo. Eu também gosto de você, você sabe disso, garota, falei meio surpreso com tal revelação. Não como eu gosto de você, ela voltou a olhar para o céu, uma brisa correu do mar para a cidade, o rosto dela surgiu por entres os longos cabelos negros, os olhos dela estavam cheios de sentimento, eu vi aquilo. Olhe para mim, eu disse. Não, eu gaguejaria, ela olhava o chão encoberta pelos cabelos. É isso então, você gosta de mim? É, acho que é por aí, eu ainda não achei uma pessoa que me completasse tanto quanto você... Aquilo me congelou.

No céu nenhuma nuvem, poucos pássaros apareciam por ali, eu pude ouvir o passar de algumas poucas pessoas realizando suas atividades matinais um tanto distantes de nós pensando em como resolver seus problemas. Mas naquele momento só nós, nossos chinelos e a areia e o mar e o céu e aquela frase existiam.


Lucas Sales Viana

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