segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Crônicas Sem Título - 3

Ela dormiu. Olhei para o lado e me apaixonei pela sétima vez naquela simples noite por ela. A primeira enquanto ela me esperava no terminal de desembarque e me procurava com aqueles grandes olhos por entre as janelas do ônibus. Teve também quando ela correu e quase me derrubou quando pulou pros meus braços. A outra quando ela me disse sussurrando ao pé do ouvido um par de coisas bem interessantes para um jovem rapaz há quinze dias longe da sua amada enquanto voltávamos de táxi para a sua nova casa. A quarta quando ela me mostrou as fotos nossas espalhadas no seu novo mural e todas as outras coisas que eu já havia lhe dado em todos os esses anos juntos. A de número cinco foi quando colocamos em teste outra vez as molas da sua cama. Aprovada! E a penúltima quando ela me olhou bem fundo enquanto tomávamos banho. Aquele delicado rosto, olhos grandes, lábios carnudos e sardas suaves espalhadas, com seus lindos cabelos emoldurando-o é algo que eu ainda tenho dificuldades para descrever. Em uma palavra: Mágico.
Saímos do banho, não esperou eu terminar de me enxugar e roubou a minha toalha para enrolar o seu cabelo, enxugou-se com a dela, deu um sorriso malando seguido de um bocejo imprevisto e foi pra cama. Vem, amor, ela disse cansada e feliz. Que opção eu teria? Ela perguntou se eu queria algo para comer. Não, princesa, não precisa. Vamos dormir mesmo. Mesmo dormindo quase todo o trecho, parecia que eu não dormira nada. Sentou-se na cabeceira da cama e se pôs no seu ritual noturno, passar hidratante por todo o corpo. Ela sabia o quanto aquilo me excitava. As molas da cama também já sabiam. Namoramos outra vez.
Terminamos. Ela colocou a cabeça sobre o meu peito. Comecei a fazer cafuné. Vou dormir fácil desse jeito, ela disse. Eu sei, amor. Conversamos sobre as nossas semanas e o quanto estávamos atarefados. Para mim nada disso importava, todo sacrifício era compensado por aquele instante. Ela cochilou. Amor, tá aí? Oi, ela se virou pra mim. Desculpa, cochilei. Sem problemas, vamos dormir? Sim. Me deu o beijo de boa noite e foi para o lado dela da cama. Sorriu uma última vez e disse que me amava. Também te amo. Fechou os olhos.

E ela dormiu.


Lucas Sales Viana

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