Onze horas acusa o rádio-relógio com um "School's Out" de Alice Cooper. Sem abrir os olhos, dá um tapa certeiro no barulho. Senta-se, olha para um lado, para o outro, coça-se, pega uma garrafa com um resto de cerveja que resistia ao lado do despertador, engole o que ainda sobrou junto com seus remédios. Levanta-se, vai ao banheiro, mira e mija, dá descarga, lava a mão, o rosto também. Vai até a cozinha, abre a geladeira, só água e um pão mofado. Não dá pra comer aqui. Junta-se a algumas roupas e desce até a lanchonete mais próxima.
Ovos com bacon e um café grande... E me traz umas torradas. Folheia um jornal qualquer deixado pelo cliente anterior. Come sem olhar. Vai saindo... E o dinheiro? Põe na minha conta, Zé. Você não tem conta, seu maldito. Volta ao apartamento. Espaçoso com mobílias antigas, nunca foi muito chegado à modernidade. Abre o congelador, salva uma cerveja. Senta-se no sofá e liga a televisão. Que merda de programa. Desliga.
Vai até o quarto, aproxima-se da escrivaninha, pega umas folhas limpas e a máquina, olha e olha as teclas, cada uma, pensa nas palavras, pensa em cada tecla sendo pressionada, desiste. Vai à cozinha, abre a geladeira, a mesma garrafa com água e a merda do pão mofado. Tira o pão, abre a lixeira e diz: Adeus. Pega um garrafa de vinho. Pátio. Um belo sol lhe acerta à cabeça e seus ralos cabelos que resistem ao tempo. Olha para as plantas que um dia floresceram, viaja.
Férias de 90. Casa de campo de familiares. Ele e ela. Passeios com suas bicicletas pela extensa fazenda. Cachoeira particular, banhos nus, brincadeiras nas pedras escorregadias que geravam quedas e risadas. Pôr-do-sol, deitados à sombra da mangueira, olhando ao longe a dança das enormes plantações de girassóis conforme o vento mandava. Acorda com os pés balançando no ar.
Lucas Sales Viana
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