domingo, fevereiro 06, 2011

Troféu.

Por que ela ainda está aqui? Por que ela ainda está falando comigo? Será que ela é tão cega a ponto de não ver a falta de sentido disso, desse momento, dessa cena estúpida? Quero dizer, gritar comigo, chutar um cachorro morto? Ela é a errada. Talvez seja isso, ela não suporta... Droga, ela tá olhando pra mim. Merda, tá dizendo meu nome...

Carlo, eu estou falando com você, por favor, olhe para mim. O que você ainda quer? Olhe para mim, eu estou falando com você... Já disse isso... Ótimo, eu não quero mais continuar com isso...

Oh, ótimo! Lá vem ela com isso de novo. O quê, querida? Nós! Então você quer acabar, como isso não me surpreende?! Pode parar com o sarcasmo, e, acho que sim, acho que não podemos ficar juntos.

Eu estava sentado assistindo minha televisão, deprimido e feliz com minha cerveja, ela estava gelada, era deliciosa. Tomei um gole, eu precisava molhar a garganta, precisava dar um intervalo, minha cabeça dizia: Soque essa vadia, ande, vamos, soque essa puta! Não, eu não bateria numa mulher, por mais que merecesse.

Escuta, mulher! Sempre foi você, esse é o problema. Talvez tenha sido esse o meu problema, você. Você só pode estar bêbado. É claro que estou bêbado... E drogado e deprimido e sentado nessa poltrona velha e suja e ainda confortável, mais macia que o chão duro e frio, enquanto assisto à minha TV... Bem, assistia até o furacão chegar!

Você está louco? Eu me levantei, olhei fundo nos olhos dela e disse: Não, garota, eu estou bêbado, acabei de falar! Então qual é o seu problema? Você, você é o meu problema. Por sua causa eu me tornei nisso... Oh, espere... Por minha causa, eu me lembro agora. Lembra o quê? Lembro-me de quando era eu um egoísta, arrogante e bastardo com um ego que bateria fácil num rinoceronte... Daquela que me disse que eu morreria sozinho e infeliz se eu não mudasse, se não me tornasse uma pessoa melhor... Falei outras tantas coisas, os olhos delas se encheram de água, se não a conhecesse poderia jurar que seria um choro verdadeiro.

Ela surtou, chorou e tentou me abraçar, eu a impedi. Ela levantou a cabeça, olhos chorosos, respiradas profundas e falou que eu nunca a amei. Olha, garota, você deve ser cega, só pode. Eu amo você... Bem, pelo menos eu amei, sei lá. A questão é que amei alguém como eu, alguém arrogante e egoísta, um Carlo na versão “com vagina”... Falando nisso, como vai a sua? Quantos entraram nela desde então? Não fale assim, para você sempre foi assim. Tudo era sexo, tudo terminava na cama.

Olá, mulher, seja bem vinda ao mundo dos homens. Eu podia ficar horas com você na minha boca, era prazeroso, suas pernas me diziam isso, elas tremiam, como elas tremiam. A diferença são os nossos mundos. Você foi o meu mundo, o seu amor, o seu sexo, o seu jeito de balançar os quadris enquanto fazia o café matinal e todo o resto que eu nunca ficava cansado de admirar. Você queria mais, queria um otário, um escravo, alguém, ou melhor, algo para mostrar para as outras, como um troféu, um grande e forte homem empalhado e rígido e com um membro grande e viril.

Isso não é verdade, Carlo, eu amo você, eu só preciso que você saia daqui, você não precisa dessa máquina, nem dessa bebida, nem dessa poltrona, você não precisa viver assim... Vá se foder, você não é minha mãe. Esse é o seu problema, mulher, dizer o que eu preciso e não preciso sem, sequer, me perguntar da verdade. Eu posso fazer o que eu quiser agora, posso sair, entrar naquele bar, pegar uma garota, voltar para meu quarto e pronto! Um vaso vazio e bem bonito estará aqui, na minha cama, pulando em mim enquanto morde o lábio inferior e vira os lindos olhinhos negros. Vou gozar, dormir e amanhã de manhã,  eu a mando embora.

Sou eu que vou embora, seu imundo! Ótimo, assim me salva outro “Vá se foder”. Boa noite, querida.


Lucas Sales Viana

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