terça-feira, fevereiro 07, 2012

Não há mais lua para nós.

E enquanto eu dirigia pelas ruas ao som de Jim Morrison, suas músicas cheias de mensagens e significados me ajudavam a pensar, eu reforçava mentalmente a ideia de não quebrar o meu código, a ideia de ajudá-la independente da nossa situação naquele momento. Tive momentos em que a outra voz me dizia para fazer o retorno na próxima esquina e fingir que nada daquilo havia acontecido. Que eu apenas saíra para comprar alguma garrafa de vodca e algo para comer.
Mas não podia, não era e nem sou covarde, nem tão egoísta quanto ela afirmou uma vez. Então eu estava ali, carro estacionado, chave no bolso, sentimentos no outro e caminhava sem pressa até ela, sentada e falando besteiras e sorrindo para os seus amigos. E na minha cabeça um pensamento. Para que tanto fingimento?
Ela me olhou e me abriu um sorriso fraco e tive ali pena, eu a via chorando por dentro, o seu desespero, e a forma como me via, como um último recurso, um sorriso entre lágrimas. Uma pena. E eu me sentei numa cadeira e fiquei ali calado, sem sorrisos, sem expressões, apenas sentado. Esperando um movimento. E eu respondia a ela. Sim. Não. Vamos, acabe de comer para que eu possa pagar. Os amigos se foram e restamos nós. Esperei repetindo mentalmente alguma música do Vedder. Depois de engolir o último pedaço ela me olhou com aqueles olhos borrados. Ainda vamos nos casar. Não. Procurei por motivos para todo aquele teatro que ela fazia para divertir a todos e  não me veio nenhum e então eu levantei e paguei a conta. Saímos.
Agarrada ao meu ombro ela foi até a sua casa e nós ali conversamos. Insistiu ainda em manter a pose. Fui frio. Quando você vai aprender que eu vejo por essa sua máscara, é inútil seu esforço para se manter com ela e fingir que está tudo bem, olhe para você, veja a merda em que se meteu... E então ela desabou ao perceber que eu estava certo e chorou como nunca antes eu tinha visto, foi a única surpresa.
Comprei água e chocolate, ver uma mulher chorar me parte o coração, e fiquei naquela conversa enquanto ela comia e bebia até melhorar. Ela falou mais uma vez que íamos no casar. É impossível que isso aconteça, pensei. Apenas ignorei e continuei a falar e a balançar de leve a cabeça de forma a negar aquele desejo. Ela percebeu e me perguntou o porquê. Apenas não. Ela entrou.
Voltei tranquilo, calmo no andar, e com pena dela. Nessa caminhada soltei todo o silêncio daquela conversa e fui falando sozinho numa noite sem lua e sem estrelas de uma cidade suja e barulhenta numa rua interditada para uma reforma qualquer, minhas sandálias estavam cheias de areia. Alguém na janela do seu prédio talvez ouvisse aquele solitário lamento com tom de mágoa. Você me virou o rosto quando eu mais precisei, no meu pior momento. Um único teste, e você tomou o caminho errado para nós. Escolheu por você e pelas fantasias plantadas na sua cabeça e foi sem olhar para trás, o que foi cruel. Você nunca olhou para trás em nenhuma das nossas despedidas, isso parte o coração de um homem. E é isso que você tem hoje, você, sozinha e tão somente. E o meu sentimento de pena também.
E é assim que vivemos, minha cara, escolhas, não mais que escolhas, quase todas irreparáveis, sem segunda chance. E numa escolha impensada você tem sua vida virada ao avesso em segundos. Eu sei bem disso.


Lucas Sales Viana

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