- Isso é o fim, então?
Ficou calado.
- Me responda ou eu vou embora!
O bater do sapato direito dela na madeira da sala era o único som que saia daquele local. Ela se virou, abriu a porta e saiu. Bateu a porta com toda a sua força. Ele continuou sentado naquela poltrona de couro velho vestia apenas uma cueca Box e uma camiseta branca.
Abriu o computador portátil e o programa de texto...
Deixem-me contar uma estória. Era uma vez, há muito tempo atrás, numa cidadezinha pequena de clima frio e pessoas mais ainda um casal de jovens. Ele trabalhava na fazenda da família, ajudava com os deveres, tirava o leite da vaca, cuidava das plantações, alimentava os cavalos, limpava o celeiro... Ela ajudava a mãe na venda que ficava no centro daquela pequena cidade, cozinhava alguns pratos, contabilizava o dinheiro, varria o chão da loja... As duas famílias eram próximas, a mãe dela comprava alguns produtos da fazenda da família dele e estes compravam outros produtos que faltas... Ah, isso é uma merda!
O que eu quero dizer é isso:
Ela o olhava em pé com olhos mistos, arrependimento, ódio, medo, vergonha e, talvez, um resto de amor, vestia uma calça jeans que mostravam bem suas pernas e seu belo quadril, uma camisa solta de cor azul, alguns colares e uma coragem que a assustava. Ele era como um morto que se esqueceu de enterrar sentado naquela poltrona marrom e escura de couro velho e rasgado que cheirava às garotas tolas que o divertiam, a olhava da pior maneira, indiferente, ele se olhava assim, olhava o mundo assim, era tudo cinza e preto e desprezível.
Você e eu, nós nos tivemos, passou, você quis que passasse, lembra?! Agora, você não pode esperar que voltemos por sua vontade, não funciona assim.
- Nós éramos jovens. Eu não sabia o que fazer.
- Isso não é meu problema, você fodeu comigo, eu nunca tinha me doado tanto por alguém. E você me pagou com um simples e seco adeus.
- Eu estava confusa.
- Eu já disse, isso não é meu problema. Por que você não conversou comigo? Eu sempre estive ao seu lado, sempre ajudei você. Você foi má, fez-me acreditar em algo estúpido e idiota, fez-me dar a você algo que jamais acreditei que tivesse.
- Eu era nova, você devia entender.
- Eu também era novo, temos quase a mesma idade... Olha, querida, eu entendo, compreendo, mas não queira que aceite como verdadeiro. Aí está a verdade: Você não luta pelo que acredita, talvez você nem acredite em nada, talvez você seja apenas um balde que as pessoas jogam suas coisas e carregam para onde quiser e isso te deixa completa.
- Você pode ser duro com as palavras você sabia disso? Eu venho por algo que eu ainda acredito ser real e você me trata assim?
- É, [sou]um monstro, eu sei disso. Mas você mente, você não veio por mim, veio por ser uma infeliz fodida, fodida por vários caras e que se viu só um dia, deitada numa cama amassada e que cheirava a suor enquanto um idiota se vestia apressado por já ter se divertido o suficiente por aquela noite. Talvez, numa dessas noites, com as partes assadas você tenha pensado: Onde está aquele idiota que eu tive há tanto tempo? Acho que deveria conseguir algo dele. Parabéns, você conseguiu de novo, conseguiu a mais crua e pura verdade, aquilo do qual sempre fugiu.
- Você é um idiota. Você acredita ser maior que os outros, melhor que eles, mas você é o mesmo que eles, você só se aproveita da situação, imagino quantas e quantas garotas passaram por esse apartamento. Todas esperando por alguém digno e verdadeiro que as salvassem desse mundo.
- Sim, eu sou um idiota e elas também são, você também é, todos nós somos idiotas, com pequenas diferenças, eu aceito a ideia de ser idiota, elas nunca tiveram noção do que é uma ideia e você é só uma idiota mesmo. Você não imagina como elas saiam daqui satisfeitas, elas jogavam seus números como se fossem tranças enormes de cabelos esperando que eu as agarrasse. Tolas. Eu não as culpo, elas não tiveram alguém que as modificassem nas suas vidas, acabaram se tornando cascas bonitas, somente.
- Por que você não as serviu?
- Por quê? Talvez por eu ter dado meu coração a você, apesar de nunca ter acreditado que um músculo poderia sentir algo, até o dia em que ele se apertou até sumir dentro do meu peito quando você me disse adeus, é, talvez tenha sido isso.
- Você disse o que acabou de dizer?
- Disse, eu fui seu, por mais idiota que seja, fui, não me importo em dizer isso, é a mais pura verdade que você pode tirar de um homem.
- Então, por que não tentamos de novo? Você continua me amando e eu ainda amo você.
- Você não me ama, você ama a ideia de ter alguém ao seu lado, você não quer chegar aos setenta e se ver sozinha sentada em um sofá com estampa de flores e com alguns rasgos nos braços assistindo a programação idiota que passa na televisão enquanto espera pela morte.
- Isso não é verdade, nós ainda podemos...
- Não, nós não podemos, eu não sou mais o mesmo e você é a mesma só que sem o charme e a inocência de antes.
- Isso é o fim, então?
Lucas Sales Viana