segunda-feira, novembro 22, 2010

Caverna de sangue.

E quando estive preso na escuridão, você, minha única luz, se afastou.

Você sentiu o meu medo, você sentiu o seu medo, você aceitou o seu medo, você fugiu. Deixou-me a lutar sozinho naquela caverna suja e escura e fétida. Aqueles ratos a correrem enfurecidos por entre as nossas pernas, poças de água escura onde pisávamos com nojo, morcegos mais se pareciam a gaviões de tão grandes e sedentos pelo nosso sangue, as baratas, de tantas, eram o mar ao se moverem, as aranhas pendiam daquelas pontas afiadas e os escorpiões se escondiam entre as pedras. E aquele cheiro? Cheiro de enxofre e fezes dos ratos e morcegos, e de morte. Você escapou ilesa de lá, talvez você seja uma bruxa, talvez você fosse, ou ainda é, tão má que até os bichos se afastaram.

Você não esperava por mim, ninguém esperava por mim, eu não esperava por mim. Matei tudo e todos e eu inclusive. Corria perdido pelo meu labirinto, tropeçando nos corpos dos meus monstros, caindo com a cara nos rios de sangue que saíam deles. Perdi-me no meu próprio labirinto de dúvidas, não via, por mais que aquilo fosse meu, saídas. Sentei-me num daqueles corpos sujos, desisti de mim por alguns instantes, lembrei-me de você, não poderia te deixar sozinha, não queria te ver sozinha, não queria te ver mais viva, eu precisava te matar. Eu senti o nojo, eu senti o ódio, eu senti a fúria. Eu destruí, então, muro por muro aos murros e chutes, sangrei-me. Senti-me vivo, aquele sangue era meu, aquela dor era minha, aquela dor era por mim e mais ninguém. Não gritei, não precisei, não tinha ninguém a me ouvir. Para quê serve o grito senão para alertar o inimigo das suas fraquezas? Eu não tinha mais fraquezas, eu não tinha mais virtudes, eu não tinha mais a mim. Eu ficaria com medo de mim, se ainda sentisse medo.

Eu andei por aqueles destroços. Eu vi uma luz, eu, sem saber mais como, sorri e chorei, sorri feliz quando vi novamente a luz, não era você, mas era uma luz, chorei ao me sentir vivo depois de todas aquelas mortes, chorei ao me sentir morto, talvez eu não tivesse mais jeito, sorri quando me voltaram as dúvidas, talvez eu não estivesse morto. Eu saí.

E o que eu mais queria era que chovesse, só um banho, era disso que eu precisava.

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