Um bar. Sim, era um bar aquilo.
Era sujo e escuro e cheirava mal, cheirava a urina dos banheiros, vômitos dos bebuns e fumaça das caiporas. Tinha um garçom feio do outro lado do balcão, lembro-me de pedir uma dose de uísque com água, várias doses. Lá fora, algumas putas rodeavam os caras fortões que seguravam suas bebidas e fumavam seus cigarros enquanto rosnavam para os outros. E estranhamente tinha silêncio ao meu lado. Era um velho qualquer. Com uma boina cinza que deixava os poucos grisalhos saindo pelos lados e olhos pequenos e tristes e calmos ele me encarava.
Tá olhando o quê, velho? – perguntei. Você, meu filho. Como é que é? Isso mesmo que você ouviu. Eu te conheço, porra? Não. E o que você quer, afinal? Alguém pra conversar. Ih, velho, pessoa errada e local errado, o grupo de ajuda aos deprimidos fica a duas quadras. O velho falou algo e não entendi. Como é, velhote? Nada, meu filho, nada...
Virei o copo.Garçom, outra dose.
Você tem filhos? – o velho começou. Não, não tenho. Eu tenho dois, um casal. Hum... É casado? Tá vendo aliança no meu dedo? Eu sou casado já tem sessenta anos. Bom pro senhor. Você me chamou de senhor, está melhorando. Você tá dizendo...
E ele insistia em me contar a sua estória, apaguei lá pela metade do monólogo.
Lucas Sales Viana
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