sábado, outubro 02, 2010

Dois.

À sombra da árvore conversam:

O que eles acharam de mim? – Ela pergunta.

Eu acho que gostaram, meus avós são simpáticos. – Ele completa.

Não sei, acho que sua avó me achou muito magrinha, ela ficava me oferecendo mais e mais comida...

É, ela é assim com todo mundo. Lembro que eu era bem gordinho quando menino por causa dela.

E aí, o que você achou deles?

Eles são ótimos, e você é a cara do seu avô!

Que quer dizer com isso? Você não é a primeira que me diz isso. Quando menino, mamãe sempre falava que eu me parecia com o vovô. Mas, quando ela explicava, eu nunca entendia.

AH... É complicado de explicar, mas vocês têm personalidades semelhantes. São fortes, firmes, chegam até a ser cabeça-dura, um pouco machistas, mas, no fundo, são uns amores de pessoas. – Ela sorri e dá um leve beijo no seu rosto.

Amores de pessoas... não vem com essa! – Ele faz um ar de desprezo.

Olha! Os girassóis estão dançando! – Ela estampa um misto de alegria, surpresa e excitação.

É culpa do vento sud... Fica calado! – Ela o interrompe.

E juntos, ele encostado à arvore e ela entrelaçada pelas suas pernas, assistem àquilo quietos. Um pequeno sorriso escapava dele. O vento ventava, jogava nas suas caras um cheiro de rio, de mato, de paz.

Com o dedo ele aponta para as pequenas luzes que acendem e apagam, acendem e apagam. O sol já se vai por detrás deles e dos morros ao final da propriedade.  A primeira estrela já brilha bem próxima a lua. Uma lua sorridente. Os girassóis continuam a dançar.

Isso é mágico. – Ela diz.

É, de fato. Não tenho o que dizer.

Será que seremos assim para sempre? – Ela solta.

Como assim? – Ele fica confuso.

Nós ainda somos jovens, você tem seus sonhos, eu tenho os meus... Não sei... Quer dizer... Talvez, sei lá, quando estivermos com trinta anos, você olhe para trás e talvez se lembre de mim e quando lembrar, lembrará de mim como “aquela com quem dormi algumas vezes”... Sei lá. – Ela, envergonhada, abaixa o olhar.

É, ou talvez, quando eu estiver com trinta anos, eu simplesmente diga: “Ela era a mulher da minha vida” – E ele olha para aquela estrela solitária.


Lucas Sales Viana

2 comentários: