- E aí? Vem mesmo?
- Vou, estou terminando de me vestir.
Ele desliga o celular e o joga na cama. Veste as calças, põe os sapatos, veste a camisa e sai.
Era uma noite. Era um sábado à noite. Um cenário clichê.
Luta um pouco para colocar o carro na vaga apertada. Consegue. Desliga o som, o carro, olha-se no espelho retrovisor lateral ao sair do carro e canta seu mantra.
- Olá! Você é um bêbado, preguiçoso e todos te odeiam, agora sorria! – O sorriso saiu falso.
Segue até o bar indicado pelo amigo enquanto coloca nos bolsos da calça a carteira, o celular e a chave do carro.
Encontra-se com o amigo e a namorada desse amigo e mais duas amigas da namorada desse amigo.
- São aquelas? – Ele pergunta ao amigo olhando para elas.
- Sim, aquela de que te falei é a de vermelho. E ela quer te conhecer.
- Percebe-se. Bom pra ela. – Ele esboça um sorriso para as meninas.
Caminha até as duas, fala com a de branco primeiro e só depois com a de vermelho. – Olá, meninas.
- Olá, Carlo. – Disse a branca.
- Olá, Carlo. – Repetiu a vermelha.
- Opa! Vejo que já sabem o meu nome.
- É, nossa amiga fala muito de você. - Antecipou-se a vermelha.
- Espero que bem, pelo menos.
Juntaram-se todos a uma mesa, conversas aqui e ali.
- Uma água, garçom. – Ele pediu.
Conversavam sobre os jogos de futebol do time feito por amigos, conversavam sobre novelas, seriados e filmes, até a política era escrachada. Reclama daquele e desse, fofoca sobre a vida dele e daquel’outra.
- Sim, vamos jogar uma partida? – Sugere o amigo.
- Vamos! – Aprova ele.
- Eu não sei jogar – Disse a branca – podem me tirar dessa, vou ficar só assistindo.
- Certo, dois times de dois – Ele disse – Você e sua garota contra eu e a vermelha. Quem vencer é o mais bonito, ou seja, vou vencer.
Um taco pra cada time, uma bola branca ao centro do pano vermelho, bolas amarelas para o casal, bolas azuis para os outros dois.
- Começa. – Ele disse.
A partida se desenrolou entre beijos melosos entre o casal a cada passada de taco e olhares entre os outros dois. Vitória das azuis.
- Eu te disse, sou o mais bonito. – Ele brincou.
- Revanche! – Gritou o amigo.
- Outra hora. – E voltaram à mesa. A dinâmica já havia mudado, ele agora conversava mais com a vermelha e ela conversava mais com ele.
- Vamos sentar em outro lugar – Ela sugeriu.
- Okay! A gente pode se sentar ali – Ele apontou para a pequena mesa vazia com duas cadeiras num dos cantos do bar. A meia luz ajudava com o clima. Ele ouviu a branca sussurrar para a namorada do amigo. – A próxima sou eu, hein?! – Ele sorriu de leve.
Sentaram-se, agora mais próximos.
- Garçom, outro refrigerante para mim. Você quer?
- Sim, obrigada.
- Outro para ela.
O garçom saiu.
- Você bebe?
- Claro, acabei de pedir uma. – Ironizou.
Ela sorriu. – Besta! Álcool? Você bebe álcool?
- Não, tenho problemas com o álcool.
- Como assim?
- Digamos que não vou de encontro à bebida.
- Não entendi.
- Sou crente. – Com a cara mais lavada mente.
- Sério?
- Não.
- Eu bebo, só que hoje não rola. Tô dirigindo.
- Você tem carro?
- Tenho.
O garçom voltou com os refrigerantes e um par de copos com gelos e rodelas de limão dentro. Serviu-os.
- Ah! Trás uma porção de fritas, por favor. – Ele lembrou quando o garçom já ia longe.
- Você faz o quê? – Ela perguntou depois de um gole na bebida.
- Estudo.
- O quê?
- Faculdade. E você?
- Também. Qual curso?
- Você primeiro.
- Direito, e você?
- Letras.
- Sério?
- É, desinteressou-se?
- Posso perguntar o porquê do curso?
- Claro.
- Qual o motivo?
- Como eu posso dizer... Primeiro, foi o que eu consegui passar, segundo, gosto das palavras, gosto de escrever, goste de ler, gosto de ouvir, e terceiro, gosto de fazer algo diferente, não queria fazer o que todos fazem, direito, medicina, engenharia e... Sem desmerecer quem quer trabalhar com isso, claro. Acho justo, você ser médico, ou juiz, ou advogado, ou engenheiro e realmente amar a profissão. Não só por causa da grana ou do status, entende?
- Entendo.
- E você, qual foi o motivo que te levou ao direito?
- Meus pais são advogados e fui criada nesse meio, acabei tomando gosto pela coisa. E concordo com você, tive alguns colegas que já desistiram do curso por não se identificarem com o mesmo.
- Isso é bom!
- Você me disse que gosta de escrever e já ouvi falar dos seus textos. Você escreve mesmo?
- Escrevo.
- O quê, por exemplo?
- Coisas.
- Que tipo de coisas?
- Coisas que surgem na minha cabeça... Sabe quando você se deita e junto vêm milhares de ideias, fatos que aconteceram, fatos que aconteceram e que você gostaria de mudar aqui e ali, fatos que aconteceram e que não deveriam ter acontecido e fatos que você sonha que aconteçam? Pois é...
A batata chegou junto com um pote com molho de cor rósea.
- Mais alguma coisa, senhor?
- Nada.
Enquanto comiam falavam sobre tudo, riam das piadas criadas, das besteiras faladas e das caretas feitas.
- Hey, hora da revanche.
- Tá bom, vamos. Mesmos times. – Carlo disse.
Mesmo cenário, bolas amarelas para o casal de namorados, bolas azuis para os outros dois.
Vitória dos azuis.
- Admita, sou mais bonito. – Carlo brincou.
- Vai se foder. – Brincou o amigo.
Voltaram à pequena mesa. O assunto agora era outro.
- Você já namorou? – Ela perguntou.
- Quer mesmo saber? – Alertou.
- Quero.
- Já.
- Quantas vezes?
- Uma.
- Só? Quantos anos você tem?
- Vinte, e você?
- Dezoito. E só namorou uma vez?
- É.
- Por quê?
- Quer mesmo saber? Coisas pessoais.
- Quero – E ela se aproximou apoiando o queixo nas costas das mãos.
- Tá bom.
Ele falou que só namoraria alguém quando tivesse certeza que valeria a pena, disse que conheceu muitas garotas, mas nenhuma despertava um interesse maior, todas falavam a mesma baboseira de sempre.
- E você escrevia para essa?
- Claro. Pra dizer a verdade, eu comecei mais a escrever por causa dela.
- E você...
- Você realmente quer falar sobre a minha ex? – Interrompeu-a. - Não, melhor não, né?
- Mas, só mais uma pergunta, pode ser?
- Pode.
- Você escreveria para mim?
- Não sei. Você seria especial para mim?
Lucas Sales Viana
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