sábado, outubro 23, 2010

Tristeza.

Naquela rua com a luz do topo do poste que hora acendia hora apagava, ele esperava pelo transporte. Ele? Ele era um velho, de cabelos prateados e imundos e sua barba grande e com piolhos que causava uma coceira agonizante, um olho cego pela catarata e o outro na fila, a pele era queimada e manchada pelo sol e enrugada pelo tempo, tempo cruel e insensível e, por momentos, perverso.

Os poucos que ainda resistiam ao frio que fazia naquela noite e que se lançavam à rua passavam por aquilo e enojados cruzavam a rua, ou fechavam os olhos, ou, pior, jogavam-lhe moedas e ele talvez dissesse: “Seus filhos de uma puta!”. Mas não ali, não naquela hora. Ele estava calmo e impassível com o olhar fixado no horizonte. Além das poucas roupas e da fogueira feita dentro da lata do lixo com o que ali havia, o cigarro era companheiro inseparável, a garrafa com alguma bebida dentro, também.

As horas passavam-se, as estórias corriam a sua frente, os filhos conversavam sobre quando brincavam nos parques da cidade, os netos se escondiam por entre as hortas do quintal e a esposa abraçava e lhe beijava da forma mais carinhosa e amável. Estórias alegres alternavam-se com as mais tristes que ficavam mais tempos que as mais alegres que cada vez menos apareciam dando mais espaço a tristeza e solidão que só aumentavam. Ele talvez chorasse, se as até as lágrimas já não o tivessem abandonado.

Enfim, o transporte chegou, mesmo sem fazer o sinal, o transporte parou e ele, então, entrou. 

Foi-se para sempre.


Lucas Sales Viana

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