Ela abre a porta destrancada do apartamento e avança pelo corredor que leva à sala, pega da estante um vaso grande e antigo e arremessa gritando:
Por que você fez isso? E arremessa um vaso contra a parede que fica de frente a ele.
Ele se levanta do sofá assustado:
Você tá louca? Esse vaso foi dado pela minha avó, mulher.
Ela avança:
Estou sim, você me deixa assim, muito puta, você é tão infantil. Você não precisava ter feito aquilo, Carlo.
Ele segura os braços e as mãos que já iam ao seu rosto:
Você sabe o porquê daquilo, você só não aceita.
Ela esbraveja:
Não tem como aceitar, é muito estúpido. É com ele que vou me casar, você sabe disso.
Ele fala:
Você ainda é louca por mim, ainda te deixo puta, ele é um bobão.
Ela continua:
É, talvez ele seja, mas ele quer algo sério. Casamento. Sabe o que é isso, Carlo?
Ele se afasta, coloca uma das mãos nas bolas e com a outra procura a caixa de cigarros num dos bolsos da calça:
Ui, arrepiou meu saco! Foi isso que faltou para a gente? O que você quer, um anel com aquelas pedras enormes que brilham e que valem uma nota? Ótimo, eu compro um para você.
Ela leva a mão ao cabelo e abaixa a cabeça balançando-a de leve:
Não se resume a isso, você sabe disso.
Ele acende o cigarro:
Não, não sei, me diga.
Ela cansada fala:
Carlo, nós já falamos sobre isso. Eu vou me casar com...
Ele a interrompe:
Não me importa, eu não vou deixar.
Ela insiste:
Você pode socá-lo quantas vezes quiser, que não vai mudar nada.
Ele se espanta:
Como é?... Vê? Você sequer se importa com ele, acabou de dizer que eu poderia bater nele o quanto quiser...
Ela responde confusa:
Que raiva! Não foi isso que eu quis dizer...
Ele dá um trago no cigarro enquanto procura pela bebida:
Mas disse...
Tanto faz, droga!
Preparando um copo de uísque, ele solta com o canto da boca:
Você está confusa, admita!
Que merda, como ele consegue, pensa:
É, talvez eu esteja, mas eu sou assim.
Ele concorda:
Eu bem que sei... Você ainda tem dúvidas?
Ela responde:
Claro, é natural ter dúvidas, questionar as coisas, tudo...é muito saudável...
Ele insiste:
Foi isso que nos atrapalhou? Um dia você parou e se perguntou: “Ai, será que ele é o meu cara certo?”. Foi isso?
Ela de olhos cheios diz:
Eu não sei... Carlo, nós tivemos nosso momento...
Ele solta o copo no bar e a interrompe com um abraço:
Não diga isso, nós ainda podemos...
Lucas Sales Viana
Nenhum comentário:
Postar um comentário