terça-feira, outubro 12, 2010

De quê?

No carro, cinco.

Um novo motorista, um amigo ao lado e três amigas atrás.

Uma música eletrônica no som, uma noite qualquer com uma lua envergonhada.

O destino: uma boate.

Encontram-se com uma amiga e com um amigo e com mais um e mais outro...

Uma fila enorme, um barulho ensurdecedor e vendedores insistindo em oferecer bebidas alcoólicas.

Mulheres que saem de carros acompanhadas de seus bulldogs travestidos de homens, solteiras que saem de táxis com suas “amigas” de festa, [todas] vestidas da melhor e da pior maneiras possíveis.

Homens que passam olhando para cada uma tentando transparecer confiança, mas que se usam do copo como um escudo, outros que nem ligam e andam até o final da fila.

E na cabeça de um (de todos) surge: Vou tomar todas! Vou chegar naquela e naquela e naquela...  Será que ele veio? Essa fila não anda, porra?

E a fila só aumenta...

Começam os assuntos... Olhares e mais olhares... Cruzar de braços, abrir de pernas, olhares para trás, viradas de garrafas... Um abre a carteira conferindo a grana, outro olha as horas, outra abre o pequeno espelho para conferir a autoestima, que até o traço perdeu.

Duas garotas se aproximam, conversam com uma das amigas do grupo e depois se vão.

A fila anda...

Cada um mostra a sua identidade para o pequeno segurança ao lado da entrada.

Entram.

A festa já ia a todas, uma garota já cantava no palco e as pessoas já se movimentavam ao redor do palco, ao redor das mesas de sinuca, ao redor do bar, ao redor de outras pessoas.

Moças bonitas, moças normais e moças não tão bonitas.

Homens fortes e atraentes e homens fracos e não atraentes.

Mulheres de quadris largos, de seios fartos, de quadris, de saia, de camisa quase transparente, de vestido, de salto alto, de botas, com maquiagem, com muita maquiagem, sem quadris, de cintura fina, de seios perdidos nos bojos traiçoeiros, de cintura larga.

Homens de braços roliços, de gosto duvidoso, de chinelo, de barba feita, de sapato, de camisa e calças limpas, de cavanhaque, de cabelos modelados, de tênis, de calças e camisas coladas, de barba por fazer, de cabelos amassados.

Alguns insistiam em querer conversar, estabelecer uma comunicação com o sexo oposto ou com alguém do mesmo sexo, era uma orelha colada na boca do outro aqui, um gritando na do outro ali, cuspindo acolá...

Aquelas garotas já circulavam pela boate, ouviam elogios e cantadas e deixavam escapar alguns sorrisos e outros sinais de interesse. Uma parecia procurar (procurava incessantemente) por um, outras duas só rodavam, uma com seu inseparável copo e a outra sem a voz, e a última, estranhamente, procurava pelo seu coração.

Os dois amigos curtiam cada um na sua freqüência, acompanhados de olhares de uma garota ali, daquela sentada no balcão, daquel’outra conversando com as amigas numa roda, de sorrisos diretos e outros não tão diretos, de mexidas nos cabelos, de cruzares de pernas, nessa ordem, na inversa, ao mesmo tempo.

Chega um terceiro, já estava alto:  Vamo, pô! Vou ficar com aquela ali, preciso de um parceiro pra enrolar a amiga dela, topa? Tô fora, deixo com você essa. Nem eu, tô tranquilo aqui. Vocês são dois cagões. Beleza, vai lá.

E ele volta. Pronto, fiquei com ela, mas ela disse que tava a fim de ficar contigo. E daí? Daí que você devia ir lá. Tá louco? Vou beijar uma garota que [você] acabou de beijar? Qual o problema? Nada, deixa pra lá, higiene.

Os cinco (agora seis) amigos se juntam, os dois homens e as quatro mulheres, uma decepcionada, outra frustrada, outra triste e outra cansada, um maluco e um solitário. Dois conversam sobre relacionamentos e suas frustrações de percurso. Outra bebe acompanhada por uma. A outra se senta numa cadeira e o último se senta na mesa da sinuca mesmo.

O motorista resolve pedir uma bebida pra ele e para a amiga de conversa. Vai à fila. Bêbados que mal conseguem se segurar nas pernas se apóiam nas barras e bordas do balcão. Chega a sua vez. Duas águas, por favor. Só duas águas, o que houve, gato? [Estou] Dirigindo e dando carona, não posso arriscar. É, sei como é isso, são quatro pratas. Aqui o dinheiro. Valeu. Obrigada.

Aí sua água. Valeu. Eles bebem calados.

Vamos nessa? Vocês já querem ir, vamos, então.

Eles se vão, os cinco que iniciaram são os mesmos que terminam, o motorista acompanha uma das amigas que insiste em trocar os pés até o carro, o outro carrega as outras duas.

Ele dirige sempre veloz, como se fugisse de algo, param em uma lanchonete e noutra e depois as três são deixadas na casa de uma e o amigo é deixado na sua casa e aquele segue só até a sua ‘casa’.

O carro para, a chave vira e a luz interna acende, ele desliga o som que tocava uma coisa melódica e pega seus pertences, sai do carro, tranca o carro. Entra no edifício de nome bíblico. O elevador já o esperava.

Fim de noite.


Lucas Sales Viana

2 comentários:

  1. hahaha, adoro esses textos das saídas! me faz sentir mais pertinho de vcs!

    ResponderExcluir
  2. Amei esse texto... Bem real mesmo..rsrsrss Bjuh!

    ResponderExcluir