Meia noite de um domingo desprezível, um domingo gastado a ler, a corrigir e a dar notas a textos, textos escritos por obrigação, abria a gaveta e tirava um texto, lia, corrigia, dava notas, assim, mecânico, sem graça, mas que dava dinheiro, dinheiro que seria usado para uma boa causa, comprar novas bebidas, estávamos ficando sem bebida, e isso era ruim.
Era um silêncio bom para os solitários, fazia frio, até o telefone gritar me lembrando que alguém ligava. Hey, acho que deveríamos sair? Deveríamos? É, deveríamos. Aonde? Que tal aquela bar? Quem vai? Alguns amigos. É, poderá ser legal.
Era um silêncio bom para os solitários, fazia frio, até o telefone gritar me lembrando que alguém ligava. Hey, acho que deveríamos sair? Deveríamos? É, deveríamos. Aonde? Que tal aquela bar? Quem vai? Alguns amigos. É, poderá ser legal.
Vai? Vou, quer carona? Não, obrigado, vou com meu namorado. Certo, chego lá em alguns minutos.
Sentamos naquela mesa enorme, pedimos bebidas, alguns iam de cerveja, outros, vodca, outros, outras. Hey, acho que você deveria conhecer aquela minha amiga? Deveria? Claro que deveria! Então, tá. Vem comigo, eu te apresento. Certo.
Hey, Taís, esse é o Carlo. Carlo, essa é a Taís. Oi. Olá. Elas conversavam sobre alguma coisa que eu não lembro, só me importava com o meu copo até ser interrompido. Hey, Carlo, o que você faz? Nada, e você? Como assim nada, você não tem um trabalho? Ele é escritor. Sério, você escreve? É, grandes bostas. Escreve sobre o quê? Qualquer coisa que vem a minha cabeça, e você faz o que? Sou médica. Hum, bem legal. Hey, me chamam ali, posso deixar vocês sozinhos? Vá lá.
Fiquei em silêncio olhando para o fundo do meu copo, aqueles gelos pediam por outra dose, eu podia ouvir. Ela pedia por atenção, não sei por qual motivo, mas ela queria a minha. Nunca conheci um escritor? Nem eu. Você sempre quis ser escritor? Você sempre quis ser médica? Claro, desde pequena. Bom para você. Você escreve sobre o quê? Já disse, qualquer coisa, até uma conversa entre duas pessoas pode virar um texto. Você está falando sério? Sim. Quer dizer que eu poderia ser uma personagem em um dos seus textos? Talvez, só não sei onde está a parte boa disso. E o que você falaria de mim no seu texto? De você, nada, da sua personagem, diria que deveria ser mais natural, o natural é belo. Conversamos por algum tempo e lembro de rir com ela. Hey, como estão indo? Estamos bem, eu acho. Ótimo, isso tudo é ótimo, vou deixar vocês conversando a sós. Àquela hora, já podia sentir que ela não era tão igual as outras, ou talvez eu estivesse bêbado.
E quando você começou a escrever? Faz um tempo, eu ainda era bem novo, comecei por uma garota, como todo bom otário que faz algo estúpido por uma garota, e, não, não vou falar sobre isso. Ótimo, não quero saber sobre essa. Interessante. Eu olhei para as horas, e, droga, já era tarde, e eu tinha aquelas provas. Taís, eu tenho que ir. Por quê? Eu sou professor e tenho provas pra corrigir e dar notas. É uma pena. É, também acho, mas acho também que deveríamos sair outras vezes, se você quiser. Claro que deveríamos, aqui o meu número. E ela o anotou, colocou-o num dos bolsos da camisa e me beijou. Retribui e saí. Já tinha chegado ao carro. Eu terei um texto? Acho que sim. De volta aos textos.
Lucas Sales Viana
"Ate uma simples conversa pode virar um texto!"
ResponderExcluiramooo seus textos, simpatia!!
Adooorei! ;**